A mulher que não embarcou no Titanic
manchetes, mentirinhas e fofoca de gente que já morreu
O Titanic me fascina porque ele é uma miniatura da vida em 1912: as roupas, as regras, um sistema de castas que mudou muito pouco. É uma história com milhares de finais alternativos, um pra cada passageiro. Poucas tragédias do capitalismo foram documentadas, pesquisadas e recontadas de forma tão minuciosa e obsessiva. Tudo ali tá registrado: quem subiu, quem ficou, quem sobreviveu, quem perdeu tudo.
Sim, é um prato cheio pra quem gosta de fofoca de gente que já morreu — um gênero do qual sou uma grande entusiasta, mais até do que de gente viva. Mas, nas entrelinhas, dá pra ler as marcas de como aquele mundo tratava imigrantes, mulheres, pobres e quem nunca mais recuperou a saúde mental depois do naufrágio. E aí a gente, sem parente importante, se pega pensando: Se eu estivesse lá, em que classe eu estaria? Qual seria o meu lugar naquele navio? Será que teria bote pra mim?
Eu já sabia o que tinha acontecido em abril de 1912. O navio inafundável quebrou no meio e afundou. Não tinha bote pra todo mundo. A Rose soltou a mão do Jack quando talvez até desse pros dois ficarem abraçadinhos na tábua.
O que eu não sabia — e o James Cameron não contou, afinal seria muita gente pra pouco filme — é que tinha uma menininha de seis anos na terceira classe do navio.
Em abril de 1912, Virginia Ethel Emanuel, 6 anos, embarcou no Titanic em Southampton, na Inglaterra, rumo a Nova York.
De Virginia, mesmo, a gente sabe pouca coisa:
1. Ela era passageira da terceira classe;
2. Em Nova York, ela ficaria aos cuidados do avô, Samuel Weil, vendedor de móveis;
3. Apesar de viajar de terceira classe, a menina estava acompanhada de uma babá e, de acordo com os jornais que noticiaram o naufrágio, era filha de uma famosa cantora de ópera, Estelle Emanuel.




