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Na minha infância, morei em uma cidade com uma quantidade cômica de médicos. O jaleco branco era uma espécie de emancipação da pobreza, então o sonho de toda mãe era ter um filho formado em Medicina. Os doutores tinham um papel central naquele ecossistema, eram respeitados, tinham posses, fazendas, secretarias na prefeitura. Clássicos do forró como “Filho do Mato”, do Saia Rodada, e “Saga de Um Vaqueiro”, da banda Mastruz com Leite, pintavam perfeitamente as tensões de classe entre doutores e os vaqueiros que os serviam.
Minha bisavó foi empregada do prefeito, “praticamente da família”; minha avó foi secretária e alfabetizou todo mundo; minha mãe, esteticista amiga das clientes, recebia chaveirinhos e souvenires do mundo inteiro, uma gentileza que rasgava um abismo entre nós e eles. Apesar de alfabetizados, cultos, bem educados e dando o nosso melhor, o abismo persistia. Éramos vaqueiros do asfalto.
Eu fui a única criança negra da sala por alguns anos, e tenho praticamente tatuada na mente a vez em que um menino da minha sala ficou surpreso (e enojado) porque nunca andei de barco — mais especificamente de iate. Por muito tempo, essa coisa do barco me deixou insegura. Eu amava o mar, vivia na praia, mas tinha algo com o barco. Alguma coisa dava errado na véspera, eu desmarcava, dava pra trás. Me imaginava enjoando e vomitando na água, caindo no mar e sumindo pra sempre, como o homem que desapareceu no cruzeiro do Neymar.