🔮Oie! Boas vindas à última VPMD de 2024.
E olha só que delícia: A newsletter vai completar um ano em janeiro! Jamais pensei que conseguiria tocar um projeto sozinha por tanto tempo.
Sem a paciência e abertura de vocês pra esse lugar que virou o puxadinho da minha cabeça, eu jamais conseguiria. Voltar a escrever me trouxe muita alegria no último ano, e se ainda sinto que estou escrevendo cartas pra conhecidos (ou que escrevo pra National Lampoon nos anos 70), então tô fazendo tudo certo.
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Previsões diretamente das vozes da minha cabeça
⬆️ sobe ⬆️
Cabelo curto/cabelo cacheado com frizz
Sim, o alisamento voltou com tudo em 2024, mas prevejo um efeito rebote no ano que vem. Apesar da volta da Cybershot e dos transtornos alimentares, graças a Deus não estamos mais em 2007, ou seja, a paciência com químicas e procedimentos de alta manutenção, como o alisamento e relaxamento, já não é mais a mesma.
Prevejo uma epidemia de pixie cuts, transições capilares e textões de brancas de cabelo ondulado sobre a importância de se aceitar. As cacheadas que não alisaram até agora vão perder a paciência com a prisão dos cronogramas capilares com 6 passos e 15 produtos, o que eu, que nunca usei nada além de condicionador e um óleozinho, acho ótimo. Vão assumir o frizz e abandonar os dedoliss, fitagens e secadores com difusor. É isso aí, meninas! Deus fica triste com tanto petrolato.
Fazer uma revista com seus amigos
Depois de uma década, finalmente o ano do podcast acabou e a mídia impressa independente vem com tudo. Não que artistas de zines, editoras e coletivos tenham deixado suas atividades de lado, mas esse tipo de expressão vai ganhar ainda mais espaço porque nossas almas clamam por mídia física. Você vai assinar (ou sentir vontade de assinar) pelo menos uma publicação trimestral ou semestral. “Bora fazer um podcast” vai virar “bora fazer uma revista?”.
Também em alta: clubes do livro e cineclubes com amigos
Consumo consciente
Seja lá o que isso for pra você. Pode ser desperdiçar menos comida e pedir menos delivery. Pode ser comprar coisas que durem ao invés de tranqueiras semidescartáveis. Pode ser parar de comprar na Shein (eu não compro desde janeiro de 2024! 🎉)
Pra mim, o consumo é consciente até demais: eu planejo qualquer compra por seis meses e passo uma semana contemplando o carrinho com o estresse de uma gazela sendo caçada por esporte até conseguir clicar em comprar. Um comportamento completamente neurotípico e normal.
Meu palpite é que o underconsumption vai ganhar ainda mais espaço em 2025, nem sempre por preocupação ambiental ou motivação política, mas simplesmente por uma questão logística: Nossos apartamentos são cada vez menores e mais caros. todo mundo tá cansado de ter coisas demais em casa.
Pop girlies
Crises políticas e econômicas significam uma coisa: uma era de ouro do pop. Em 2024, tivemos bons lançamentos de Olivia Rodrigo, Charli xcx, Chappell Roan, Sabrina Carpenter e incógnitas como Tate McRae e Gracie Abrams (respectivamente, o Mirassol e o Cuiabá da música pop).
Eventos horrorosos como a posse de Donald Trump trazem à tona os sentimentos responsáveis pelas duas principais falanges do pop atual: as Horcruxes da Courtney Love (frutos do ódio) e as Gatinhas (frutos do tesão e do escapismo), com convergências que podem criar resultados interessantes.
Maré favorável para: Lésbicas do Pop, pelo segundo ano seguido
Em queda: Meninas Tristes Com Um Violão E Voz De Preguiça (Phoebe Bridgers, Clairo e outras. Amo as duas, mas apenas outra pandemia nos colocaria de novo nesse zeitgeist melancólico.)
Ah, e assim que a campanha de Wicked acabar, quem sabe a Ariana Grande deixa de gracinha e volta a ser negra. Volta, Blackiana!!!!
Cirurgias plásticas
Aqui, vejo dois caminhos: de um lado, as cirurgias plásticas vão se tornar cada vez mais imperceptíveis, e as pessoas vão pagar caro por mudanças mínimas, pra fazer parecer que elas não tentam. Falei disso láááá atrás, no meu texto sobre a cultura do glow-up e as comunidades de looksmaxxing.
Do outro, prevejo a era Cronenberg da cirurgia plástica, começando pela popularização do transplante de cara. Sumir por meses pra voltar completamente diferente vai se tornar cada vez mais comum. “Fulana debuta novo rosto e choca internautas” vai virar manchete frequente nos portais de fofoca.
Aconteceu com a Xtina, com a Lindsay Lohan, com a Donatella Versace, com a Doutora Raquel Brito e com a Andressa Urach, que tem alternado períodos de descanso com o lançamento de novas DLCs (como a língua bifurcada). Logo logo vai acontecer com alguém que você conhece. Long live the new flesh.
torcida (coisas que não são previsões, mas que quero que virem moda em 2025)
Rolê de trilha sonora
Já passou da hora de baladas que tocam trilhas sonoras de filme. As ruas clamam por Trent Reznor e Atticus Ross.
Cair em contradição
Certa vez, numa nota de rodapé desta publicação, me referi à cantora Charli xcx como “chata”. Aí, menos de um mês depois, atrasada no hype do brat summer, me rendi por completo, porque saquei por conta própria que brat não é um disco sobre festa e droga, brat é um disco sobre ser uma esquisitona ansiosa. Como alguém que revisita dolorosamente e todos os dias todas as interações que já teve desde os cinco anos de idade, esse álbum me salvou. Mas foi um gosto adquirido.
Esse é só um exemplo pessoal pra ilustrar que, agora que nossos hot takes ficam pra sempre tatuados na internet, toda primeira impressão é um posicionamento. Parece que o direito de se contradizer se perdeu.
Torço pro novo ano trazer a delícia de aceitar de coração aberto algo que você jurou que ia detestar se experimentasse. Mais ou menos como um pai de família que não queria cachorro em casa e agora leva a pinscher pra passear de vestido.
Tá, isso é menos futurologia e mais um desejo e uma promessa pra mim mesma. Em 2025, quero me contradizer mais e me perder no personagem.
⬇️ desce ⬇️
Relações parassociais
Eu vou falar olhando nos seus olhos: você não conhece a Taylor Swift. O Jungkook te odeia. A coruja do Duolingo são dois publicitários num casaco. Seus criadores de conteúdo favoritos não são ricos, eles são herdeiros ou estão endividados. Todas as celebridades “não problemáticas” que você ama usam droga, têm relacionamentos abertos ou no mínimo dariam tudo pra fazer o que amam sem um monte de desconhecido enchendo o saco.
Um exemplo se desenrolando em tempo real é a escalada judicial entre a Blake Lively e o Justin Baldoni. Resumindo, todos os TikToks e posts do Reddit pintando Lively como uma mean girl sem talento que maltrata jornalistas seriam parte de uma campanha de difamação arquitetada pela equipe de Baldoni, que, segundo processo, teria assediado atrizes e membros da equipe e humilhado Lively no puerpério. As duas coisas podem ser verdade. O público, que imediatamente jogou pedra na Blake, tá dividido. No Reddit, estão descobrindo que qualquer mulher pode sofrer violência de gênero, inclusive uma atriz escrota que atua meio mal.
O discurso sobre celebridades tem tudo pra ficar meio cínico. Vamos finalmente entender que qualquer pessoa, famosa ou não, tem chances iguais de criar algo bonito e de fazer merda. A longa discussão sobre separar o artista da obra não vai acabar no ano novo, mas é possível que o discurso preto-no-branco da cultura stan perca força e que cada vez mais pessoas consigam enxergar a engrenagem da indústria de celebridades e o poder de páginas de fofoca na mão das assessorias.
Photodumps
O photodump do Instagram surgiu como protesto anti-performance: eram fotos bobas e despretensiosas do cotidiano. Mas aquele compilado de 10 fotos se tornou outra prisão, um Instagram dentro do Instagram, que é, em sua gênese, uma rede social pra mostrar sua vida boa pros outros. A casualidade e a vibe “vida real” dos dumps deve ter durado uns dois meses, no máximo.
Das duas uma: ou o Instagram implode de vez ou retornam as fotos individuais de comida e praia.
“Clean girl” e “quiet luxury”
Pelo menos nos círculos mais progressistas. A Clean Girl com Deus Pai, iteração religiosa da clean girl laica, é uma outra criatura com ciclo de vida à parte— essa vai continuar firme e forte.
Em 2025, clean girl e o quiet luxury vão se tornar as estéticas oficiais do evangelismo cool, algo que já tinha começado a acontecer no ano anterior. Falei sobre a política dessas estéticas neste post, de setembro. Será que elas apropriaram a moda cristã ou o contrário?
Autodepreciação
Sabe quando um simples parágrafo muda sua vida e reprograma seu cérebro? Pois é. O tweet da gay dando fecho na outra gay com “eu me casaria com um feio, jamais com um coitado” abriu meu terceiro olho e reduziu de forma drástica a minha autodepreciação.
Sim, eu ainda tenho problemas de autoestima. Sim, eu ainda duvido do meu potencial e aparência o tempo todo, mas, na maior parte do tempo, mantenho (ou pelo menos tento manter) uma relação de neutralidade com o meu corpo.
Tenho percebido um movimento parecido nos últimos anos, desde o uso de termos como “grande gostosa” de forma irônica. 2025 será o ano de praticar gaslighting da sua própria autoestima. Ser tão confiante — e mentir pra você mesmo sobre ser confiante — que os outros não vão ter alternativa senão acreditar que você é sim tudo isso.
Chega de ser coitado! Ninguém precisa saber que você se odeia! Repita comigo: você não é feio, você tem cult following! Você é cinema de arte!
death note (coisas que não são previsões, mas quero muito que acabem em 2025)
“Couro” ecológico
Eu não sei qual alternativa é melhor pro problema do couro, mas sei que não tem nada de ecológico no tal do poliuretano (PU). Lojas, vamos parar com a palhaçada. O plástico — sim, o “couro ecológico” é plástico — vai durar pouco nas peças e estimular o consumo, mas os restos vão demorar centenas de anos pra se decompor. Quer vender? Vende, mas não chama de ecológico. Vai virar jaqueta de tapuru essa porra!!!! Cria vergonha na cara!
Comentário acerca do Ozempic
Apenas tome. A gente sabe que você quer emagrecer. Ninguém se importa!
O adjetivo icônico
CHEGA!!!! Não aguento mais ver o uso do adjetivo “icônico” pra algo que aconteceu quarta-feira.
Foi bom enquanto durou, mas já passa da hora de jogarmos o “icônico” pro mesmo balaio de constrangimento ao qual pertencem adjetivos como “épico”. Minha gente, tanto termo de origem grega melhor pra usar. Emblemático, por exemplo. Apoteótico. Catedrático. Tessalônico. Dórico. Jônico.
A IA burra (e obrigatória) do Google
Não vou reclamar de quem usa ChatGPT, mas pelo amor, não acredito que acabei de gastar a energia de uma casa de 4 cômodos contra a minha vontade pra receber uma informação completamente delirada no Google. Eu não quero falar com a IA!!!!!!
O ano acabou, meus amores!
Obrigada a todo mundo que me lê, apoia, compartilha e comenta e, claro, aos meus amigos/leitores beta que me deram aquela força lendo uma edição ou outra: Beatriz, Camila, Eduardo, Isabela, Manoella, Mauany, Moisés, Nara, Vítor…
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Feliz 2025, segura as pontas e vai!
Eu te acho a pessoa mais descolada do substack. Feliz 2025
triste demais que a ariana parou de fazer música boa depois que voltou a ser branca!!!